quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Obscena Hilda Hilst




Eu ‘conheci’ a Hilda Hilst por causa de um trabalho que fiz pra faculdade. 

(Aquele trabalho de Moda e Literatura da FMU, proposto pela Jô Souza, que já desfilou algumas vezes pela Av. Paulista/ Livraria Cultura.)

Me apaixonei de cara. Eu diria que ela é Clarice Lispector de boca suja e pernas abertas, mas isso é opinião minha.

Verdade que ontem fui na Livraria Cultura e fiquei com vontade de ler tudo dela.

Recomendo muito ‘A Obscena Senhora D’, mas recomendo a poucos, porque é leitura de difícil digestão.

Mas vale a pena, que nem paella ou feijoada.

Um gostinho:

“Vi-me afastada do centro de alguma coisa que não sei dar nome, nem porisso irei à sacristia, teófaga incestuosa, isso não, eu Hillé também chamada por Ehud A Senhora D, eu Nada, eu Nome de Ninguém, eu a procura da luz numa cegueira silenciosa, sessenta anos à procura do sentido das coisas. Derrelição Ehud me dizia, Derrelição – pela última vez Hillé, Derrelição quer dizer desamparo, abandono, e porque me perguntas a cada dia e não reténs, daqui por diante te chamo A Senhora D. D de Derrelição, ouviu? Desamparo, Abandono, desde sempre a alma em vaziez, buscava nomes, tateava cantos, vincos, acariciava dobras, quem sabe se nos frisos, nos fios, nas torçuras, no fundo das calças, nos nós, nos visíveis cotidianos, no ínfimo absurdo, nos mínimos, um dia a luz, o entender de nós todos o destino, um dia vou compreender, Ehud
compreender o quê?
isso de vida e morte, esses porquês
escute, Senhora D, se ao invés desses tratos com o divino, desses luxos do pensamento, tu me fizesses um café, heim? E apalpava, escorria os dedos na minha anca, nas coxas, encostava a boca nos pêlos, no meu mais fundo, dura boca de Ehud, fina úmida e aberta se me tocava, eu dizia olhe espere, queria tanto te falar, não, não faz agora, Ehud, por favor, queria te falar, te falar da morte de Ivan Ilitch, da solidão desse homem, desses nadas do dia a dia que vão consumindo a melhor parte de nós, queria te falar do fardo quando envelhecemos, do desaparecimento, dessa coisa que não é existe mas é crua, é viva, o Tempo.
(...)”



Pra quem quiser conhecer mais: http://www.hildahilst.com.br

Um comentário:

  1. Que linda vc é!!! Que grande ela é. Estou quase há 03 anos em cartaz com HILDA HILST O Espírito da Coisa baseado sómente na palavra escrita e enunciada desta que é sem dúvida uma das maiores da língua portuguesa, pelos teatros de São Paulo.Ganhei APCA de atriz por esse trabalho em 2009 e agora parto levando o universo hilstiano por quase todo o interior através do SESI. Mas no dia 20 de março às 18;30HS representaremos o Brasi no Festival Ibero Americano de Teatro no Memorial da América Latina. Se puder apareça. Tenho certeza ela adoraria a sua presença e eu também.
    claro!!!! Beijão
    Rosaly Papadopol
    Vc está no face?

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