Ontem eu fui ver a peça "O Amor e Outros Estranhos Rumores" do Grupo 3 de Teatro, que é o grupo da Débora Falabella.
(Só um parêntese: não me sinto muito à vontade de falar "grupo da Débora Falabella", porque parece que só porque ela virou famosa, o grupo é mais dela do que dos outros. O que não é verdade. Mas eu queria situar.)
Enfim...
Queria recomendar, porque eu achei excelente, mas infelizmente, está em cartaz só até hoje e acho que não dá mais tempo. De qualquer maneira, fica a dica para olhos atentos caso a peça volte a entrar em cartaz ou para buscar mais sobre Murilo Rubião, o escritor mineiro em que a peça foi baseada.
É o seguinte:
O Grupo 3 de Teatro levou para o palco a originalidade, o humor e o fantástico que marcam a obra do escritor mineiro Murilo Rubião, autor dos três contos, adaptados por Silvia Gomez, que compõem o espetáculo 'O amor e outros estranhos rumores', dirigido por Yara de Novaes, estrelado por Débora Falabella, Maurício de Barros, Rodolfo Vaz (do Grupo Galpão, convidado especialmente para esse trabalho) e Priscila Jorge.
Mestre brasileiro do realismo fantástico, Murilo Rubião (1916-1991) teve três contos selecionados para essa encenação: O Contabilista Pedro Inácio, cujo personagem contabiliza os custos de um amor; Bárbara, em que um marido resignado se vê diante dos pedidos incessantes e nada comuns da esposa, que engorda a cada desejo satisfeito; e (Três nomes para) Godofredo, uma interpretação aguda sobre o casamento e a solidão. Risíveis e absurdas, essas histórias compõem um espetáculo que busca expressar o quanto há de ordinário e, ao mesmo tempo, extraordinário em nossas vidas.
A obra de Murilo Rubião permaneceu praticamente desconhecida para o grande público durante mais de três décadas. A reedição do seu livro de contos O Pirotécnico Zacarias, em 1974, o tiraria do esquecimento, transformando-o praticamente em um best-seller nacional, admirado pelos leitores e por intelectuais do porte de Mário de Andrade que, em 1943, escreveu “o mais estranho é o seu dom forte de impor o caso irreal. O mesmo dom de um Kafka: a gente não se preocupa mais, é preso pelo conto, vai lendo e aceitando o irreal como se fosse real, sem nenhuma reação mais”.
Na equipe de criação do espetáculo, André Cortez é o cenógrafo, Morris Picciotto compôs a trilha sonora, a iluminação é de Fabio Retti e Fábio Namatame assina figurinos e visagismo. A adaptação ficou a cargo de Silvia Gomez, autora de O Céu Cinco Minutos Antes da Tempestade. A direção de produção é de Gabriel Fontes Paiva.
Um gostinho:
Além da peça, tem também a exposição.
O grupo organizou, em forma de exposição, o universo de Murilo Rubião no saguão do Teatro TUCA. Assim, o público aguarda o início do espetáculo participando interativamente de uma exposição com expografia de André Cortez, que assinou as comentadas exposições no Museu da Língua Portuguesa: “Gilberto Freire interprete do Brasil” e “O Francês no Brasil em todos os sentidos”.
Murilo Rubião foi o primeiro escritor brasileiro que escolheu o gênero fantástico como caminho inequívoco de criação. Sua obra ficou por muito tempo descolada do grande público e, até hoje, apesar de muito estudada nos meios acadêmicos, tem menos leitores do que merece.
Assim como os leitores que aceitam o insólito com naturalidade, suas personagens também convivem com as circunstâncias absurdas sem grande atordoamento. O absurdo nada mais é que a própria existência condenando os homens a um cotidiano destruidor, onde o desejo não cessa, mas também nunca é satisfeito. A exemplo do mítico Sísifo, não há salvação e, pior do que no mito, não há esperança.
Apesar de lidar com temas muito inverossímeis, em que o tempo-espaço se inverte, as metamorfoses acontecem, o sonho invade a realidade, os animais se humanizam e os homens se coisificam, Rubião escreve com simplicidade e clareza, numa quase contradição entre o que é narrado e como é narrado. Sua obsessão pelo texto direto e claro levou-a a reescrever e reescrever suas histórias até o fim da vida.
Fonte: Noite Revista
Mais info: Teatro Tuca
Fiquei curiosa pra ver a peça. Um pena ter que esperar que ela volte.
ResponderExcluirE sobre o blog... eu não sabia dele. Fiquei feliz em descobrir. Já to lendo vários posts seguidos a... sei lá... uns 30min.