quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ronaldo Fraga e o "Velho Chico"



O estilista mineiro Ronaldo Fraga dá continuidade à coleção Verão 2009, que teve o rio São Francisco como tema, apresentada no São Paulo Fashion Week e homenageia mais uma vez o “Velho Chico”, como é carinhosamente conhecido o rio São Francisco, em exposição itinerante, resgatando a cultura e a alma ribeirinhas por meio de tecidos, música e poesia. 

Como diz a lenda do rio, “Uma vez que se bebe da água do São Francisco, o rio nunca mais sairá de você, e você voltará para sempre”. Ronaldo conta que foram várias as vezes, mesmo com a coleção já pronta, que queria voltar ao rio.  
Com Rio São Francisco Navegado por Ronaldo Fraga: Cultura Popular, Moda e História, o estilista mineiro aproxima mais uma vez moda, arte e crítica. São dez instalações divididas em dez ambientes interligados, remetendo ao interior do vapor Benjamin Guimarães, construído em 1913 e ainda em funcionamento. 

Logo na entrada, peixes feitos de garrafa PET pendurados no teto anunciam o tom político e de crítica social que acompanha toda a mostra. Ao alerta sobre a poluição das águas somam-se poesia e a dor das pessoas que abandonaram suas cidades para dar lugar a hidrelétricas – é tocante o vídeo dirigido pelo ator Wagner Moura, cuja família foi a última a deixar a pequena Rodelas, inundada quando ele ainda era criança.

Interativa, a mostra convida o visitante a mergulhar no processo de criação do estilista mineiro, famoso por  ligar suas coleções a aspectos da cultura brasileira. Prova de que a tal identidade da moda nacional pode ser uma questão de curiosidade e criatividade.
 
“Eu conheci o Velho Chico pelas histórias que o meu pai contava. Eram lendas assustadoras do rio São Francisco e, por isso, cresci muito apaixonado por aquele universo”, disse Fraga por ocasião da exposição. Mas o sonho de ver de perto o rio só aconteceu de fato em 2008. No mesmo ano, o estilista mineiro surpreendeu o mundo da moda - estética e politicamente - com um desfile marcante que conseguiu transpor a essência das belas minúcias do São Francisco para a passarela da São Paulo Fashion Week. A coleção ainda foi apresentada em Santiago, no Chile, no México e no Museu de Arte Contemporânea de Tóquio. 
 
A proposta é de que o visitante, de fato, "navegue" pelas águas da exposição como se estivesse no convés do Vapor Benjamim Guimarães, navio que subia o Velho Chico construído em 1913 e tombado como patrimônio histórico. Dali é possível observar, em dez ambientes diferentes, as diversas faces do rio em vídeos, roupas, e instalações interativas. Da nascente à foz, a mostra passa pelas lendas, religiosidade, cheiros, sabores, cantos e costumes das cidades ribeirinhas. A multiplicidade das culturas, que se difere a cada fase do rio, está desenhada no percurso da história contada por Fraga. Pontos de bordado e rendas característicos de cada um desses universos aparecem absorvidos nas roupas do estilista.  

Assim como nos desfiles de Ronaldo Fraga, a exposição também é “costurada” pela música. O trecho do poema “Águas e Marcas do Rio São Francisco”, da obra “Discurso de Primavera e Algumas Sombras”, de Carlos Drummond de Andrade, é declamado por Maria Bethânia em meio a interpretações de canções que falam sobre o rio. “Esse poema do Drummond, embora tenha sido escrito em 1977, dá a impressão que foi feito hoje pela manhã. Nele o escritor fala das mazelas do rio que está por um fio, por uma gota, literalmente. Quando chego e deparo com a mistura do São Francisco do meu pai, que não existe mais, com o rio dos meus dias, que padece sob muitos aspectos, me pergunto: o rio dos meus filhos, que cara vai ter? Quando se fala que o São Francisco está doente, o que está em risco não é só o rio, mas toda cultura ribeirinha”, diz Ronaldo no site oficial do projeto em sua reflexão sobre o assunto.

A exposição, que ficou em cartaz em Belo Horizonte até 19 de dezembro, ainda passará por mais 16 cidades em 2011, entre elas São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Maceió, Pirapora, Januária e várias localidades ribeirinhas. Ao final da itinerância, o trabalho ganhará uma publicação, registrando o caminho percorrido por esse envolvimento afetivo entre arte, estilista, rio e público.

(Estou em cólicas porque não consigo descobrir QUANDO em São Paulo, só sei que será no recém-inaugurado Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera.)




Nenhum comentário:

Postar um comentário